sexta-feira, 17 de junho de 2016

Monasticismo Ortodoxo I - Filologia e Fontes


Discutamos primeiro o significado dos termos 'monge' e 'monasticismo' a partir de um ponto de vista filológico. As palavras derivam do grego μοναχός, que significa 'solitário'. De fato, o sentido original de 'monge' na Igreja Ortodoxa é 'aquele que vive só'. Pelo que conhecemos do monasticismo, isso significa claramente alguém que renunciou o mundo, o casamento, a família e que se retirou para o deserto. Entretanto, Santo Atanásio o Grande, na sua ''Vida de Santo Antão'', afirma que até o tempo de Antão os monges viviam antes em celas nos limites das cidades do que no afastados no deserto. Podemos tomar isso como um observação prática que se aplicava pelo menos ao Egito em meados do século III.

Olhemos agora para a origem do monasticismo na Igreja Ortodoxa. Vejamos primeiro as condições sociais do Oriente Médio e da Bacia do Mediterrâneo no período clássico tardio. Há algumas áreas que nos interessam mais especialmente: Constantinopla, Capadócia, Síria, Palestina e Egito.

A Síria e a Bacia do mediterrânea eram áreas sofisticadas e cosmopolitas. São Clemente de Alexandria, escrevendo em meados do século II, se refere ao budismo, do mesmo modo que São Cirilo de Alexandria em seus catecismos em meados do século IV. A brevidade dessas menções indicam que o budismo não era uma força séria nestas áreas, mas é importante perceber que a região não era isolada. Havia muito mais interação entre ela e o Oriente do que geralmente se pensa. Mais ainda, existiam várias heresias que eram mais ou menos prevalecentes na área, como por exemplo o maniqueísmo e o gnosticismo. Havia ainda mais interação através do Mediterrâneo, apesar das dificuldades para se viajar, do que geralmente se imagina; podemos perceber isto por meio dos Atos dos Apóstolos. O mundo intelectual destas regiões era muito sofisticado, semelhante aos nossos dias.

Fazemos esta apreciação para montarmos o cenários para nossas considerações sobre o desenvolvimento do monasticismo no Egito e na Síria. Hoje em dia, alguns acadêmicos defendem que Santo Antão, por exemplo, foi, pelo menos nas cartas que lhe são atribuídas, um escritor muito mais sofisticado e não cristão do que se supõe comumente. Nós duvidamos destas afirmações acadêmicas, desprovidas que são do phronema e mentalidade autêntica da Igreja Ortodoxa, mas é bom termos em mente as características da região.

Consideremos agora as fontes de nosso conhecimento do monasticismo ortodoxo. Existem três tipos de fonte primária: a vida dos santos, incluindo o período inicial dos ''Ditos dos Padres do Deserto''; escritos dos próprios santos, especialmente testamento e Typika ['regras'] para as fundações monásticas; e os tratados dogmáticos e ascéticos dos santos ascetas.

A maioria das vidas dos santos disponíveis foram coletadas e publicadas pelo menos no grego original pelos Padres Bolandistas. O ''Ditos dos Padres do Deserto'' foram publicados integralmente em várias edições em francês. A situação na língua inglesa não é boa.

O ''Synaxaria'', as coleções de vida dos santos, são usualmente edições modernas mais equilibradas, enquanto as vidas dos santos originais foram trabalhadas por um ou outro editor, o que é verdade até para a ''Synaxaria'' mais antiga. Assim, as edições críticas da vida dos santos terão preferência. Entretanto, ocasionalmente o único registro que teremos sobre a existência de um santo será uma breve entrada no Synaxarion. Isto ocorre especialmente com os santos anteriores ao Edito de Milão, em 313. Nos casos de um santo asceta anterior a esta data, o Synaxarion é o único registro de práticas ascéticas ou monásticas no período.

Os testamentos e typika do Império Bizantino foram publicados no grego orinal com tradução em inglês pela ''Dumbarton Oaks Research Library'', e a coleção inteira pode ser encontrada de graça on-line em [http://www.doaks.org/typ000.html].

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